Há um ano, o Atlético festejava a ambicionada subida à I divisão. Terminada a temporada, a formação de Alcântara desceu, mas a equipa sénior não vai competir na II divisão, por ter sido extinta, mantendo apenas escalões de formação. Contactado pelo Lado F, o plantel do Atlético deu conta dos sentimentos de “revolta e injustiça” e fez chegar uma tomada de posição. No entender das jogadoras, o fim da equipa acabou ser “expectável”. “O presidente Ricardo Delgado apresentou-se à equipa em maio, dois dias antes do último jogo do campeonato com o Varzim, quando a descida de divisão já estava definida. Até aí, havia jogadoras que nem sabiam quem era o presidente do clube. O presidente fez questão de sublinhar a falta de apoio da Direção para com a equipa feminina e acrescentou que o Atlético não estava preparado para ter uma equipa num campeonato nacional, mas em nenhum momento deu a entender que a equipa iria acabar, pedindo sempre desculpas pela falta de apoio”, refere o plantel, que soube da decisão pelas redes sociais, “duas semanas depois, sem nenhum aviso prévio ou qualquer palavra”.
Numa realidade amadora, a temporada foi conturbada por razões de vária ordem, entre as quais a falta de pagamentos. Acordado com cada jogadora o pagamento de um valor mensal simbólico até ao final da época, o que o plantel considera “justo”, ao competir no topo da modalidade, essa realidade não foi posta em prática. “O Atlético nunca esteve em dia com as jogadoras. Em dezembro, havia casos de jogadoras que, desde o início da época, em julho, não tinham recebido nada, e, a maioria, tinha meses em atraso. Ao fim de várias chamadas de atenção por parte das jogadoras, constantemente ignoradas, o plantel tomou a posição de parar de treinar até que os primeiros pagamentos começassem a ser feitos, ao que o clube respondeu com a ameaça de ‘várias consequências’, entre elas o fim da equipa feminina. Ao fim de uma dia sem treinar, o clube desbloqueou os pagamentos e foram liquidadas as dívidas até janeiro”, explica o grupo.
“Até ao dia de hoje, com a época finalizada, o clube deve às jogadoras quatro meses de trabalho”, completam, acrescentando que o incumprimento foi extensível às duas equipas técnicas lideradas por Hugo Duarte e posteriormente por Ricardo Monsanto.
O plantel revela igualmente que, desde maio, Sindicato dos Jogadores e Federação Portuguesa de Futebol estão ao corrente da situação. “A FPF, inclusive, tem em vigor, supostamente, um mecanismo de controlo para estas situações, mas perante a sua inação percebemos que de pouco vale. É triste que em Portugal jogadoras da primeira divisão de futebol feminino estejam nestas situações, ou noutras semelhantes, sem qualquer apoio por parte de entidades que se dizem defensoras dos jogadores e da transparência. Não somos jogadoras profissionais, nem jogamos na Seleção ou em clubes grandes, mas merecemos o mesmo respeito e consideração”, alegam.

A finalizar, as jogadoras reconhecem que sempre tiveram noção de que o Atlético “é um clube humilde, com recursos limitados”. “Por isso, sempre fomos compreensivas com os atrasos nos pagamentos, mas em momento algum houve qualquer explicação para os atrasos nos pagamentos, apenas constantes promessas que não foram cumpridas”, explicam. “Ainda assim, as atletas continuaram a cumprir com a sua parte e estiveram sempre presentes, a competir em todos os jogos, dando o seu melhor, numa competição que já se previa difícil desde o início. Também neste contexto, não se percebe muito bem as expectativas do clube para com a equipa feminina. Não se percebe se estariam à espera de ser campeãs nacionais, ou de algo mais. É, claramente, um clube sem visão desportiva e estratégica, ao acabar com uma equipa um ano, após ter conquistado uma histórica subida de divisão. Lamentamos muito este desfecho, principalmente pelas jogadoras que já pertenciam ao plantel do ano passado e fizeram parte desse momento”, constatam.
Foto: Tiago Tavares