Se antes a situação já não era famosa no que diz respeito aos apoios, altamente insuficientes tendo em conta o extraordinário rendimento alcançado pelos atletas portugueses na canoagem, a pandemia veio piorar ainda mais o percurso dos principais praticantes da modalidade, tendo na véspera o Benfica confirmado a saída da canoísta olímpica Joana Vasconcelos depois de esta não ter aceitado renovar contrato com o Benfica numa proposta que implicava uma redução de 40% no que respeita ao valor a auferir. Uma situação que, para cúmulo, não é virgem em Portugal nos tempos mais recentes, o que motivou uma reação do presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, Vítor Félix, que fez saber a sua posição de que deveria ser o próprio Estado a “garantir o futuro” aos atletas de alta competição, nomeadamente aqueles que constituem a federação a que preside. “Em Itália e Espanha há abertura por parte do Estado para que a maior parte dos atletas em projetos olímpicos sejam incluídos em forças militares, como a polícia e exército, com um conforto através do vencimento,” contou.
Saída de Joana Vasconcelos causou preocupação no presidente da federação de canoagem
“Quando acabam a carreira desportiva têm outra à espera, seja militar ou na polícia“, assim revelou o método levado a cabo em outros países europeus e que nunca antes foi repercutido em Portugal, uma situação que o dirigente máximo da FPC lamenta. “Não veria com maus olhos o Estado português enveredar por uma situação destas”, acrescentou, até porque existem vários casos de sucesso entre os países que implementaram esta medida como a “bem-sucedida equipa de canoagem da República Checa”, cuja ligação profissional é feita com a polícia nacional checa.
“É lamentável o que se está a passar. Primeiro o Sporting a terminar com o projeto olímpico da canoagem e agora este desinvestimento que já se saberia que podia acontecer no Benfica… Esses cortes foram um fator comum a outras modalidades do projeto olímpico do Benfica”, avançou, com postura crítica, o presidente da federação de canoagem que reconhece que neste momento se encontra “preocupado com a tranquilidade na preparação de atletas em ano tão importante como o dos Jogos Olímpicos quando já foram defraudados com o seu adiamento”, o que pode prejudicar o próprio projeto olímpico nacional.
Recorde-se que ainda em setembro último Joana Vasconcelos garantiu duas medalhas para Portugal na última Taça do Mundo de Velocidade: ouro na final da competição de K1 500 metros apenas dias depois de ter arrecadado bronze na prova de K1 200 metros, o que a torna uma das grandes candidatas a obter medalhas para Portugal nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a disputar este verão. Até lá, a canoísta terá a preocupação adicional de resolver a vida profissional sem nunca descurar uma preparação que, como é sabido, é bastante minuciosa.
Imagem: Luís Fráguas/Federação Portuguesa de Canoagem